terça-feira, 5 de julho de 2011

PISÃO DE TABUADELA


Descemos pelas encostas que impressionam. A paisagem tira a respiração e dá vontade de nos perdermos por ali e ficarmos horas e horas a ouvir o silêncio do vento. Como se aquele instante em que contemplamos a natureza nos arrebatasse e as árvores, as serranias, as nuvens e o céu conseguissem meter-se dentro do nosso peito e nós nos sentíssemos prestes a explodir. Como se, contemplando aquela paisagem, acreditássemos que somos capazes dos maiores feitos. E, ao mesmo tempo, experimentando a nossa insignificância e finitude.
Há pouca água nesta altura do ano. E há três pontes, ao lado do pisão, construídas, em diferentes épocas, umas sobre as outras. Como se fossem três andares do esqueleto de um prédio. Na ponte inferior, mais estreita e mais perto do curso de água, e parecendo que as pedras vão desabar a cada momento, os burros e os cavalos assustavam-se e recuavam, negando-se a passar. O sr. Francisco e o pai tinham que ir ajudar os homens a sossegar os animais e a fazer a travessia.
Foi aqui no pisão que comecei a comer. Puseram-me massa à boca e eu comi! Mas disso não me lembro! Fez-nos rodar a roda a seco para mostrar como funciona o mecanismo. Já me tinha explicado o que era o gastalho, a peça onde se alojam os panos para serem apisoados com os malhos. As levas batem nos malhos e fazem-nos mexer como se estes fossem pés gigantes de um gigante de andar trôpego.
Os panos têm sempre de estar molhados, caso contrário, os malhos cortam o burel. Primeiro, deita-se água fria, para limpar o tecido e só quando a água começa a sair limpa é que se pode começar a deitar a água quente. Daí a necessidade de haver uma caldeira, para aquecer a água, no interior do edifício. Infelizmente, o pisão foi assaltado há tempos e a caldeira foi roubada.


(Pisão de Tabuadela funcionando a seco)


Conhece a Seara? Não, sr. Francisco. E lá fomos nós, circulando pela estrada sinuosa, até chegarmos ao paraíso. Porque há qualquer coisa de mágico naquela aldeia. Não sei se foi o recorte dos dois burros a descansar no alto da colina que avistámos quando estávamos a chegar, se a mistura das casas de pedra em ruínas com os rostos lisos das mulheres de oitenta anos, ou se foi o verde esmeralda dos campos que mais me impressionou. Só lá vivem onze pessoas. E quatro chegaram-se a nós.
Fiquei a saber o que é a sopa branca. Sopa feita de cebola picadinha, batata, arroz, massa e um fiozinho de azeite comida ao pequeno almoço. Porque as sopas que levam couves e feijão comem-se ao almoço e ao jantar.


(Patinhos no lago em frente à casa assombrada na Seara)


2 comentários:

  1. e que sem dúvida alguma Portugal tem um encanto especial..paisagens de contos...de sonho..com horizontes de saudades,tradição,desejos..e incógnitas

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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