sexta-feira, 8 de julho de 2011

PATRIMÓNIOS

Com exceção do mel, das filhoses, dos bastidores da Feira do Fumeiro e das comidas de boda, as minhas pesquisas no âmbito do projeto para o Ecomuseu de Barroso, pouco têm a ver com comida. Embora eu tenha tendência para, naqueles momentos mais informais das conversas com os informantes, puxar sempre pelo assunto.

Contudo, com a diversidade de temas que o projeto abarca, ando mais ocupada (e preocupada) a recolher a e sistematizar informação que permita familiarizar-me com um conjunto de temas e de processos técnicos que nunca fizeram parte dos meus investimentos prévios.

Quando estive em casa da Rosa do alfaiate, andei-me a exercitar no uso do fuso a seco. Não deixou de ser importante, porque repetir os gestos que ela fez à minha frente já me permitiu perceber (até um certo grau) a dinâmica dos dedos da mão direita. E se eu não perceber e interiorizar essa dinâmica, não vou conseguir pôr por escrito a técnica. Tão simples quanto isso.

A preparação culinária, mesmo que seja de uma comida complicada, como hoje ouvi chamar ao fazer dos maranhos, no Festival de Gastronomia Maranho e Bucho na Sertã, não me causa estranheza, não me intimida e a primeira reação que normalmente tenho é: deixe-me experimentar. Foi mais ou menos isso que aconteceu há uns anos em Melgaço quando, numa viagem com os alunos finalistas, me foi explicado pela mãe de um deles como se fazia a broa na pedra. Alguns minutos depois já ela tinha delegado, por iniciativa do marido, o amassar da broa nas minhas mãos.

Com os temas que ando a tratar, as dificuldades são maiores. É imaginar como funciona o pisão já com o burel acomodado no gastalho e a água quente a ser deitada, é fazer de conta que me consigo transportar até à época em que faziam as carvoadas em Gralhas para perceber  que diferentes versões de recriações os vários membros da comunidade resgatam do seu passado, é ficar sossegada com a simplicidade do tratamento inicial dos juncos mas já estar em pulgas para perceber como se tricota a capa. Entre muitas outras preocupações, limitações e obstáculos.

Hoje de manhã, no workshop sobre gastronomia, acabei por matar saudades das coisas que andei a escrever nos últimos quatro anos. Encontrei uma administração local que tem um cenário inteiramente virgem para explorar no âmbito das estratégias de ativação do património alimentar e que achou por bem, e bem, partilhar experiências e ouvir opiniões para traçar de forma mais informada um caminho a seguir.


(Roca em exposição na Casa da Cultura)

Há, para além do modelo das feiras gastronómicas, muitas outras iniciativas que se podem desenvolver e que são capazes de gerar fluxos constantes de visitantes à localidade ou à região. A Rede de Tabernas do Alto Tâmega é um bom exemplo disso.


 (Demonstração de preparação dos maranhos)

As iniciativas de ativação do património alimentar que envolvem a população (os diferentes segmentos da população) acabam por ser as mais eficazes a médio e longo prazo. Porque as pessoas assumem como representando a sua identidade coletiva determinados produtos da terra e comidas e são capazes de os vender de forma mais emotiva. E num turismo de nostalgia, consomem-se emoções. E gosta-se de ouvir contar histórias...


 (Degustação do maranho e do bucho)

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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