segunda-feira, 4 de julho de 2011

CONSTANTINO CROCEIRO

O despertador do telemóvel toca às 6h. Abro as portadas das janelas do rés-do-chão e o nevoeiro cerrado não me deixa ver para além de uns escassos metros. Duas maçãs insípidas e o pensamento nos croissants que comia no El Corte Inglês de Vigo, há mais de 30 anos. E os olhos só deixam de me pesar depois de tomar banho.

É preciso estar em Salto antes das 8h para fazermos as filmagens com o sr. Constantino, um dos últimos croceiros do concelho. Eventualmente, o último da freguesia. E eu gosto de conduzir sem pressas. Ainda mais, porque não vou sozinha.

Perto do local onde o sr. Constantino vai cortar os juncos havia muitas vacas a deitar fumo pelas narinas. Nevoeiros pequenos dentro de um nevoeiro grande que nos gelava os ossos.




Constantino trazia poucas coisas. Uma faca e uma pedra de amolar dentro de um pequeno balde. É um favor que nos faz. Uma representação para as câmaras. Porque quase todos os juncos já haviam sido cortados há uns dias. O trabalho de hoje foi um extra.




Têm de ser cortados mesmo pela base. E basta uma faca de cozinha que se afia e volta a afiar de cada vez que se torna necessário. Um trabalho cansativo. São necessários 20 molhos para se conseguir fazer uma croça para adulto.




Nem todos os juncos que são cortados podem ser aproveitados. Por isso, depois do corte, em sacudidelas repetidas, soltam-se os cabelos sem serventia para o trabalho.




Colhida a quantidade adequada para se fazer um molho de juncos, ata-se o mesmo com uma corda e está pronto para ser transportado para casa para ser submetido às operações seguintes.




Desata-se o molho e escolhem-se novamente os juncos, excluindo aqueles que estão já apodrecidos e que não tinham caído aquando das sacudidelas. Depois, com a mascota, massam-se os juncos apenas na base dos mesmos.




A operação seguinte consiste em delubar os juncos, isto é, em separar o molho de juncos em molhos menores e em enrolar sobre si mesmos esses molhos. É uma operação que tem de ser feita com luvas, caso contrário cortam-se as mãos.




Finalmente, Constantino, transporta os molhos para um terreno situado nas traseiras da sua casa para secarem. Só depois de estarem completamente secos é que os juncos podem ser tricotados e as croças podem ser construídas. É preciso que o sol faça a sua parte.




Daqui por algum tempo voltaremos a casa de Constantino para o ver fazer as croças. Agora já quase não se fazem croças em tamanho real. Já não há pastores. As croças miniaturizaram-se. Há muitas destas miniaturas penduradas no teto da garagem de Constantino. Juntamente com vassouras e polainas.



Parabéns, L.

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